domingo, janeiro 22, 2012

Denunciando!!! Na delegacia, polícia e TV tratam inocente como bandido. Era um jovem negro

A inaceitável história de Tiago Paulino, que pediu um táxi e, sem dizer nada ao condutor além do destino que desejava, foi parar no distrito, ficou algemado e virou audiência para programa policial


Tiago Paulino só queria tomar um táxi para ir à casa de um

amigo. O condutor deduziu que ele era assaltante e parou na

porta da delegacia



Ser preso por ser negro não é algo que ocorra só em Goiás. Pro­grama sensacionalista de TV explorando imagens de pessoas detidas para ganhar audiência também não existe só por aqui. Mas os goianos terminaram a semana passada com vergonha da polícia e do telejornalismo feitos no Estado.



É de estarrecer a história vivida por Tiago Paulino, um desenvolvedor de web formado em Sistemas de Informação pela UEG, na madrugada da sexta-feira, 13: após tomar um táxi à meia-noite perto de sua casa, no Setor Nova Suíça, ele foi encaminhado direto para a delegacia pelo próprio condutor do veículo, que, em pânico, o acusou de querer assaltá-lo. A polícia comprou a versão do taxista, chegou a atirar no rumo do rapaz e a agredi-lo; a equipe da TV Goiânia, também presente, mas para outra ocorrência, aproveitou para filmar as cenas. Tiago não teve nem tempo de se explicar: já se viu intimidado fisicamente e alvo do cinegrafista e das perguntas do repórter.



Depois de transtornos e humilhações — como infelizmente é ainda comum e nada raro ocorrer com negro que passe por um plantão de delegacia —, ele foi liberado. No outro dia, sua imagem foi exposta na TV como a de um marginal, no programa “Chumbo Grosso”. “Mar­ginal”, inclusive, teria sido, segundo disseram amigos, uma expressão dita pelo apresentador para se referir a Tiago, algo que a própria vítima não quis confirmar sem verificar antes — ele pediu a gravação à emissora.



Ganhar audiência com o mundo do crime e com quem vive na marginalidade é uma tarefa geralmente cômoda, já que a grande maioria das pessoas expostas não tem cidadania suficiente para ir atrás de seus direitos. Não foi o caso de Tiago, um jovem negro de família esclarecida.



O fato tomou conta das redes sociais e foi acirrado por uma nota da TV Goiânia no Face­book, em que declarava que “todos os envolvidos foram ou­vidos e tiveram o direito de dar a própria versão dos fatos” e que o “passageiro revistado e algemado pela PM” deu en­trevista “por livre e espontânea vontade”. Foi o que bastou para a página da emissora na rede receber uma enxurrada de comentários indignados.



Procurado por telefone na tarde da sexta-feira, Tiago mostrou-se calmo e prudente. Confirmou que a polícia disparou contra ele ao descer do carro (alegaram que ele estava tentando fugir) e revelou que, ao contrário do que disse a TV Goiânia por meio da nota, não pediu para que a matéria não fosse publicada na internet — a emissora diz que “o passageiro do táxi” fez essa solicitação. De qualquer forma, ele se sentiu agradecido por não ter tido sua imagem exposta também na web.



Em nota posterior, do editor, a TV alegou que “caso a reportagem não fosse feita, a sociedade não tomaria conhecimento do que aconteceu”. Ora, se houve esse “benefício”, ele ocorreu de forma torta, já que a emissora, ao reproduzir a matéria, não tinha a menor intenção de denunciar o crime de racismo.



A madrugada de terror vivida por Tiago Paulino expõe mais do que vergonha: é um caso inadmissível de racismo a seis mãos: as do taxista, algo desapontador, mas individual; as da polícia, o que é intolerável partindo da instituição que é; e as da emissora, dona de uma concessão pública que há anos presta desserviços e desinformações por meio do tal programa. Até quando?



- Sobe

A postura sempre imparcial que a Rádio Difusora de Goiânia consegue imprimir a seu jornalismo. Inde­pendência total é um mito, mas a emissora talvez seja o veículo de comunicação que mais se aproxime disso em Goiás.



- Desce

A cobertura basicamente sobre as consequências que fazem os jornais diários sobre a grave crise na saúde em Goiás. Pre­sos ao factual, não investem na análise dos fatos para tentar elaborar alguma perspectiva mais crítica, o que só ocorre na boca de “especialistas”.

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